São Francisco do Paraguaçu e Santiago do Iguape

Uma das regiões mais ricas da Bahia, tanta no aspecto histórico como econômico é o Recôncavo Baiano. Em tamanho proporcional é a falta de cuidado e valorização desta riqueza que vou mostrar um pouco para você através deste post.


Eu e meus pais tiramos uma tarde para visitar estes dois distritos de Cachoeira, localizados ás margens do Rio Paraguaçu. Saímos de Salvador após o meio dia. Pegamos a BR-324, depois a BA-420 e a BA-880.  A estrada é boa e tranquila. Chegamos por volta das 14h. Veja mapa do trajeto abaixo:



Primeiro, vamos falar de Santiago do Iguape, a mais antiga freguesia da região do Paraguaçu. Citamos brevemente a formação desta aldeia jesuítica, e muitas outras ás margens do Rio Paraguaçu:

"A riqueza dessas vilas fluviais se deve, não só à produção regional de exportação, como ao intenso comércio com Salvador e o sertão. Estas são cidades de fundo de vale desenvolvidas nas duas margens de um rio. Em consequência desta condição geográfica elas se desenvolveram seguindo duas diretrizes lineares paralelas ao rio, depois ligadas por pontes. Este é o modelo seguido, também, por Valença, cortada pelo rio Una."


A vila de Santiago do Iguape, foi sede da produção significativa de açúcar do Recôncavo no período colonial. Ali funcionou um engenho mecanizado, que de engenho virou usina. E depois, a área foi convertida para o cultivo do dendê explorado através de uma empresa do ramo. Estas constantes mudanças de cultivo, resultavam em desemprego para milhares de família que haviam se adaptado a um determinado tipo de extração, seja animal ou vegetal, e agora tinham que ser expulsas de suas terras.

Assim, a mão de obra escrava é o que sustentava a economia do Recôncavo e futuramente, gerou tensões entre a população remanescente quilombola e donos de terra. Existe até a exploração do Turismo Étnico nesta região. Ao passar pela estrada vimos uma placa que indicava a Rota da Liberdade e visitação a Quilombos. Veja mais aqui

Neste distrito está a primeira igreja do interior da Bahia, a Igreja Matriz de Santiago do Iguape, que em 1608 recebeu sanção canônica como Matriz. Porém veio a se arruinar com a saída dos jesuítas e posteriormente sua conclusão é como vemos atualmente.

O estilo da igreja é barroco. Possui painéis de azulejos semi-industriais, azuis e branco, duas torres bulbosas revestidas de cacos de louças, provavelmente de Macau. A festa da Igreja é dia 25 de julho, o mesmo dia da festa de Santiago de Compostela, na Espanha.

Havia uma grande movimentação na Praça principal e famílias nas portas de suas casas, comendo e bebendo.  A grande atração do local é a Baía de Iguape, com um porto simples de onde partem os barcos pesqueiros para retirar das águas o sustento de muitas famílias. Além da Baía, ali encontramos a Igreja já mencionada.

Seguimos para São Francisco do Paraguaçu.  


Mas o que nos leva ao distrito de São Francisco do Paraguaçu é uma das grandes obras franciscana nesta região: a Igreja e Convento de Santo Antônio do Paraguaçu, fundado em 1649, mas o projeto é de 1658, de autoria de Fr. Daniel de São Francisco. Este modelo logo se difundiria em Pernambuco e Paraíba, formando a Escola Franciscana de Arquitetura do Nordeste. Três elementos de origem indo-portuguesa parecem ter contribuído para a criação do primeiro partido arquitetônico genuinamente brasileiro: um grande cruzeiro, fachada inscrita em triângulo e laterais avarandadas. 




Vemos aí a influência da religiosidade hindu, muito comum em Goa, cidade na Índia. Lá se usava a tulôsse, após conversão dos hindus em cristãos, foi substituída pelo cruzeiro para sua veneração.  Quem primeiro chegou na Índia, foram os franciscanos e assim imprimiram na arquitetura de conventos e igrejas a marca única da cultura indiana. Vemos isto nas carrancas em estilo mongol no frente do Convento. 




Neste convento funcionou um Noviciado, onde jovens eram admitidos para serem sacerdotes. Também funcionou como hospital, Hospital de Nossa Senhora de Belém, que deu suporte a população na época da febre amarela. Depois o hospital foi transferido para Cachoeira, onde funciona a Santa Casa de Misericórdia. Com a proibição de admitir noviços, o convento foi abandonado e doado a Arquidocese da Bahia que procedeu com o levantamento do estado do Convento e autorização de sua demolição. O que hoje constitui um crime contra o Patrimônio

O imóvel foi tombado em 1941 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que ali tem realizado trabalhos de conservação e consolidação das estruturas e restauração das imagens. Mas não tem muita conservação não. Recentemente foi cenário da novela da Globo, Velho Chico, porém precisa de incentivos para visitação pública.

Tiramos algumas foto, ficamos num bar próximo onde comemos uma moqueca e retornamos para Salvador com a convicção de que o nosso potencial turístico na Bahia não é explorado da maneira correta e boa parte da nossa história e beleza está se acabando aos poucos.
Você pode chegar em São Francisco do Paraguaçu através de um passeio de barco saindo de Cachoeira, que relatei neste post aqui.
Já pensou numa filmagem com drone a partir deste píer? Quem fizer, por favor me avise...rsrs




E uma grande surpresa foi ver golfinhos, ou botos, como chamam a população local, nadarem e pularem em pleno Rio Paraguaçu. Nunca imaginaria que isso acontecesse por ali.



E se você se interessa pela história da Bahia, principalmente a da região da Baía de Todos os Santos, sugiro o livro Baía de Todos os Santos, aspectos humanos, UFBA.

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